terça-feira, 17 de abril de 2012

Jorge Amado ganha exposição em sua homenagem

Se vivo, Jorge Amado completaria 100 anos no mês de agosto. Para comemorar a data, autor ganha exposição.
Jorge Amado passeia na praia ao lado da esposa, Zélia Gattai
Jorge Amado e Zélia Gattai na praia
 
“Sou um escritor do lado do pobre contra o rico, do futuro contra o passado, da liberdade contra a opressão, da fartura contra a miséria, do socialismo contra o capitalismo.” Tal afirmação, feita pelo próprio Jorge Amado no  curta-metragem “A Casa do Rio Vermelho”, dirigido por  Fernando Sabino e David Neves em 1974, mostra que ninguém poderia descrevê-lo melhor do que ele mesmo.
Nascido em 10 de agosto de 1912 em uma fazenda de cacau, no Sul da Bahia, o escritor foi casado por 56 anos com a também escritora Zélia Gattai. Amado morreu em 6 de agosto de 2001 e Zélia sete anos depois, em maio de 2008.
Amigo e parceiro de importantes artistas como o autor Graciliano Ramos e o músico Dorival Caymmi, Jorge Amado chegou a lançar  mais de 30 livros, que foram traduzidos para 49 idiomas. “Gabriela, Cravo e Canela”, um de seus romances mais famosos, teve o maior número de traduções: 32 idiomas.
A história também ganhou  adaptação para a televisão em 1975. Marcando o imaginário dos brasileiros com a famosa personagem vivida por Sônia Braga, a novela trouxe novos amantes ao rico mundo literário de Amado.
Em comemoração ao centenário de nascimento do escritor, o autor Walcyr Carrasco está escrevendo uma readaptação de “Gabriela”, que traz Juliana Paes no personagem central – a estreia está marcada para julho. Para Carrasco, levar as criações do escritor para outros formatos colabora com a disseminação de sua obra. “O Brasil é um país sem memória e apesar da importância de Jorge Amado no panorama de nossa literatura, hoje encontramos muitos jovens que não conhecem sua obra. Por isso, levar ‘Gabriela’ para a TV é uma forma de estimular o interesse por toda a sua literatura”, afirma.
Outra mídia a abraçar a grandiosidade da criação de Jorge Amado foi o cinema, com diversos filmes, dentre eles, “Capitães da Areia”, do ano passado, que foi dirigido por Cecília Amado, filha de Jorge.
um homem políticoAlém da  universalidade de sua escrita, um dos motivos pelo qual Amado viajou para muitos países foi a sua atividade no Partido Comunista. Militante ativo,  viu-se confrontado ideologicamente após descobrir os crimes contra a liberdade cometidos por Joseph Stalin, um dos principais governantes soviéticos da história.
De acordo com Myriam Fraga, diretora da Fundação Casa de Jorge Amado, o autor condenou durante toda a sua vida os totalitarismos existentes. “A partir do momento em que ele descobriu as atrocidades cometidas na URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) começou a se afastar do partido. Porém, ele nunca abandonou seus princípios. Continuava socialista, mas democrático, já que nas palavras dele mesmo ‘a miséria do mundo são os regimes totalitários’”, afirma a diretora.
Pela forte perseguição dos militares à ideologia comunista que norteou a vida e obra do autor, Amado teve de se exilar na França em 1950. Essa viagem colocou o escritor em contato com grandes intelectuais como os escritores Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir e o pintor Pablo Picasso.
Homenagens /  Integrando o calendário de comemoração de seu centenário, começa hoje, no Museu da Língua Portuguesa, a exposição  “Jorge, Amado e Universal”. Segundo William Nacked, diretor geral da empresa que dirige o evento, a estrutura da exposição foge dos padrões didáticos. “Queríamos lançar um olhar diferente sobre ele, mais para o pessoal, o intelectual e o político, acrescentando a isso o contexto histórico”, explica Nacked.
O espaço trará uma ambientação de paisagens da Bahia, construída com elementos artesanais, como a montagem do Mercado Municipal de Salvador, local de extrema importância na vida e obra do autor.
O acervo será dividido em quatro setores. “O primeiro terá Jorge falando dele mesmo. No segundo, quem fala são conhecidos como o artista Carybé e o político cubano Fidel Castro. Na terceira parte, quem aparece falando dele é quem não o conheceu, dizendo o que faria se o conhecesse. E, para completar, o espaço Jorge Universal vai reunir informações relacionadas ao escritor espalhadas por mais 70 países”, explica.
Depois de São Paulo, a exposição viajará para o Museu de Arte Moderna, na Bahia. O evento seguirá  pelo país, mas há previsão de levá-lo também ao exterior. “Está quase fechado para ir, em 2013, para a feira do livro de  Frankfurt, na Alemanha, a maior do ramo do mundo, na qual o homenageado do ano é o Brasil”, revela.
Reportagem de Matheus Marestoni
Fonte: Diário de São Paulo 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...